sábado, novembro 26, 2005

Diálogos póscoloniais

Hoje, a sessão de Diálogos Póscoloniais foi valorizada com a presença de José Luís Cabaço, que foi ministro dos Transportes do I Governo de Moçambique, um profundo conhecedor e investigador da História de Moçambique, e da sua esposa, a brasileira Rita Chaves, especialista em Literaturas Africanas, particularmente da angolana.
O primeiro falou do processo de libertação, da estruturação de formas de resistência, da dualidade colonial que, após os momentos de diálogo no período revolucionário, se recompõe hoje com idênticas tonalidades. A modernidade africana é externa na sua essência e coexiste dialecticamente com os sistemas tradicicionais, o que torna difícil a comunicabilidade. Afirmou, também, que a polarização dual na época colonial era bem mais forte em Moçambique que em Angola.
Rita Chaves referiu, desde logo, que estudar a literatura angolana é percorrer o roteiro da utopia. Tal utopia baseia-se na crença numa junção equilibrada de dois mundos, o da tradição e o da modernidade. Privilegiou a análise de Luandino, de Pepetela e de Ruy Duarte que protagonizam, entre outros, quase toda a reflexão sobre a sociedade angolana, ocupando o espaço vazio da História que continua por fazer. Nesse aspecto, Moçambique avançou muito mais, talvez por não ter tido um tempo de conflito tão alargado como Angola.

sábado, novembro 19, 2005

Divagação em torno da Harriet


foto australiazoo

Harriet fez 175 anos terça-feira. Terá sido, dizem, capturada nas Ilhas Galápagos por Charles Darwin, em 1835, e vive hoje no Zoo na Austrália.

Parabéns Harriet!


A bichinha anciã tem sorte em não viver em Portugal, senão já teria sido sondada para candidata à Presidência da República a fim de derrotar Cavaco Silva.

(Pardon, Marocas! Com todo o respeito por si mas não lhe darei o meu voto. Dá-me náuseas toda a campanha que vai aqui pela net para o desmerecer e gostava mesmo era que continuasse a intervir na sociedade bem acima destas andanças partidárias. A minha intensa raiva vai direitinha para o governo do partido que o sustenta e que eu ajudei a eleger. Concordo que o país precisa de reformas mas pensadas e pesadas, não o disparate de disparar às cegas para todo o lado e dividir para reinar.)

Há festa cá no sítio...

Desde manhã que se nota a azáfama dos preparativos. Carros de reportagem e de imagem, entre outros, gente que sai e que entra com ar atarefado.
É um espectáculo do campeonato mundial de uma qualquer luta, mistura de arte marcial com kickboxing, protagonizada por campeões do mundo e arredores, quiçá alguns marcianos. Coisas que só com uma arma apontada à cabeça iria ver.
A razão deste meu post, é mais pelas bandeiras que se colam à minha visão deste 2º andar. A portuguesa e a da UE, ladeadas pela vermelha de Cascais e a pequena amarela da Junta de Freguesia de Carcavelos. Na extrema direita (ups) a branquinha, a do Clube Recreativo dos Lombos, o anfitrião.
A partir das 17.30 horas, aqui o sítio vai perder a paz que o caracteriza. Serão os carros, as vozes, a polícia e depois o burburinho e aplauso dos espectadores quando os intervenientes lhes derem razões para tal. Após os primeiros acordes da barafunda será altura de colocar uma boa música bem alta e fingir que nada se passa.

sexta-feira, novembro 18, 2005

O céu chorando por ti...

18 de Novembro de 1983. Uma terrível tempestade abateu-se sobre a noite de Lisboa e vizinhanças provocando memoráveis cheias. Mal a senti, tão alheada estava por uma outra tempestade, incomensuravelmente maior, que acabava de desabar sobre o meu eu estupidificado pela dor.
Tu não pudeste já compará-la com aquelas outras imponentes tempestades tropicais que não podias esquecer. Resolveste dizer-nos adeus quando o céu já se enlutava por ti, papá, e transformaste a nossa noite num pesadelo acordado.
Lembro que o rio Tejo amanheceu castanho do tanto que roubou às margens pelo caminho e caudaloso das águas que bebeu do céu, tão tumultuoso como o meu eu envolto num turbilhão de mágoas inconformadas.
Não consegui então chorar, talvez porque o céu o fez abundantemente por mim, ou porque até hoje nunca acreditei que te perdi, meu pai.
As últimas palavras que te ouvi ressoam ainda nos meus ouvidos: "Ardeu o abacateiro, filha...". Soube então que andavas pelo quintal da nossa casa cuidando-o como sempre fizeste e que te fundias numa das muitas árvores que a tua mão dedicada plantou e acarinhou.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Para além da curva do rio...

Dedico este conto à minha prima MH com aquele abraço bem solidário...



Todos os dias Saquina mete os pés descalços na estrada meia de terra, meia de alcatrão.
Em que pensa nesses longos trajectos de vai vem diários? Não conhece a televisão, não recorda novelas, não lê, não tem luz eléctrica nem água canalizada, nem obviamente máquinas de lavar. Não sabe o que é um arranha-céus e quando lhe contaram que as Twin Towers tinham caído não percebeu a tragédia. Milhares de pessoas mortas. Saquina não imagina quantas pessoas compõem o milhar.
Saquina só sabe que tem de dar muitos passos, diariamente, no vai e vem da água. Se são centenas ou milhares, não faz ideia. Nunca viu um mapa e nem saberia interpretá-lo. O mundo, para ela, é aquele à beira rio, que desabou um dia quando lhe levaram os irmãos para a guerra e a violaram. Chorou de dor, chorou de raiva. Ficou aquele filho que é só dela. Arranjou marido, sim. Um pescador. E mais cinco filhos. No meio do vinho, a pancada que lhe descarrega pelo corpo abaixo, já nem dói. Nem sente, quando abre as pernas para despachar. Nesses momentos, pensa apenas que no dia seguinte vai carregar a água, lavar a roupa ao rio, tratar da horta, apanhar a lenha, fazer a fogueira, preparar a comida. Sempre de olho nos quatro catraios que ainda por ali andam, correndo entre as cubatas. Os outros dois já partiram para a cidade grande, como acontece com todos os jovens da aldeia que correm, naturalmente, atrás dos rumores sobre a felicidade do ter.
Do que Saquina gosta mais, é dos momentos em que vai e vem na rotina da água. Da paisagem, daqueles tons das árvores, amarelecidos e verdes, dos pássaros que lançam chilreios e gritos estridentes, da terra vermelha, do céu azul. É no rio, contudo, que Saquina resplandece. Senta-se naquela pedra, sempre a mesma, deixando os pés refrescar mergulhando-os prazenteiramente nas suas águas. Balança-os ritmadamente ouvindo o chap-chap que fazem no entra e sai da água. Lança um suspiro e sorri. É então senhora do mundo. É livre. É na solidão dos seus dias à beira deste rio que Saquina encontra a paz e o alento para enfrentar as noites da sua vida.
Não sabe de onde vem aquela corrente de águas escuras nem onde termina. Pensa, então, que um dia ganhará coragem para se deitar na pequena jangada que jaz entre as ramagens. Deixá-la-á deslizar para além daquela primeira curva que vislumbra sentada na sua rocha e, acompanhando o movimento das águas, perpetuará a sua solidão e a sua liberdade viajando até ao fim dos seus dias em busca do fim do rio. Ou do princípio do desconhecido.
MC

sexta-feira, novembro 11, 2005

Parabéns, avó Maria!


O dia 11 de Novembro tem um significado muito especial para mim.
É o dia de S. Martinho inscrito no imaginário mítico como simbologia da generosidade e presente no calendário religioso. O santo, pela dádiva da sua capa ao mendigo num dia de frio intenso, recebeu como recompensa divina o calor extemporâneo de um sol estival. Esse verão de S. Martinho agraciou-nos, sem dúvida, hoje, embora um frio de rachar já ameace esta noite. Com castanhas e água-pé, por todo o lado a tradição do magusto cumpre-se, unindo as pessoas em redor das mesas, estimulando a concórdia em agradáveis convívios.
Como factos históricos, temos que foi neste dia, em 1918, que foi assinado o armísticio entre os intervenientes da 1ª Guerra Mundial, pondo fim às hostilidades. É, pois, um dia que marca a paz. Este 11 de Novembro comemora, também, os trinta anos de independência de Angola que hoje, erguendo-se das ruínas de uma guerra trágica, parece ter encontrado a necessária paz para construir um futuro na via para o desenvolvimento.

É, contudo, por outro motivo, que este dia se assume como particularmente significativo em termos pessoais. Ela, a matriarca da família, fazia anos. Aquela mulher firme, lutadora, autónoma, que sempre foi o pilar da família. Aquela que sem rasgados sorrisos, ousava tudo e sabia ver para além do aparente. Só ela, com uma personalidade ímpar, durante a sua vida, conseguiu congregar toda a família. Era neste dia, após a diáspora dos ramos residentes em terras africanas, que todos nos juntávamos num almoço em torno do seu olhar luminoso e determinado. Era? Não. Ainda hoje, já mais de dez anos sobre a sua morte, é o momento em que se perfilam os abraços, o estás mais gorda ou mais magra, o como vai a tua vida, num cenário de reencontros e de conviviabilidade familiar.
É claro que isto não importa a mais ninguém que não a mim. Não podia, contudo, deixar de o registar como homenagem a uma mulher que tanto admirei e que transmitiu para as gerações seguintes um legado de valores e princípios que constituem directrizes na minha vida.
Parabéns avó Maria!

domingo, novembro 06, 2005

News do dia...


Paris arde, en colére, fazendo erguer de gavetas projectos adormecidos há 25 anos, no Brasil Bush é vaiado, há confrontos israelo-palestinianos, um tal Câmara Pereira quer entrar numa linda falua que vai pra Belém, enquanto o papa Bento XVI muda de alfaiate porque, debaixo da vestimenta feita por quem veste o papado desde o século XIX, apareciam as peúgas enfiadas em sapatos do conceituado e caro estilista Prada.

De um fôlego e em síntese, as ideias que me ficaram das news da TV no dia de hoje.