sexta-feira, novembro 10, 2006
Mulher portuguesa/Caterina de Agostinho
Naquele lugar...
e logo senti o acolhimento,
daquelas árvores,
daqueles arbustos,
daquela relva,
daquele lugar!
Por ali andei,
por ali namorei,
por ali sonhei, acordado,
como agora, neste momento,
quando sinto o teu cheiro,
no cheiro daquele lugar!
Ali declamei,
ali fiz promessas,
num futuro só de luz,
cheio de amor,
vida, partilha.
Na recordação deste lugar,
encontrei de forma inesperada,
o sabor da tua presença,
por momentos, real,
por momentos, tão doce...
Oh saudade linda,
porque te escapas,
fica, fica comigo,
transforma este doce calor,
no calor do peito dela,
transforma esta imagem,
naquele corpo macio,
como manto de veludo...
Oh saudade, saudade,
porque estás tão amarga,
porque te escapaste?
Ricky, 21 de Jan. 2005
sexta-feira, outubro 27, 2006
Daquela Janela....
Nesta rua tão simpática,
há uma imagem que fica,
naquela bonita janela
aquela figura tão bela.
Ninguém ficava indiferente,
elas, com ciume evidente,
eles, com olhos bem "feitos",
de propósitos "insuspeitos".
Só o ardina na barraca,
ficava mudo como uma estaca,
olhava de soslaio,
p'lo cantinho do olho,
como um catraio,
c'um rebuçado p'ro molho.
Os dias passavam felizes,
suaves como voos de perdizes,
sem vislumbre de caçador,
nem notícias de valor!
Os machos, m'ai'los machões,
faziam apostas aos montões,
era "amor", "amor" aos repelões,
até fazia doer os corações...
E, rua abaixo, rua acima,
as surtidas continuavam,
e ainda por cima,
todos se entusiasmavam.
............................................
Ah! a janela se fechou,
mas que foi que se passou?
Que tarde triste aquela,
sem a figurinha da janela!
Aquela "figura" adoeceu,
e, então tudo se esclareceu,
era um "travesti" cuidadoso,
muito bonito, muito meloso!
Ele se transformava,
dos cabelos à cintura,
naquela janela espreitava,
e assim montava a estrutura.
Foi um "bruá" danado,
elas de sorriso rasgado,
de olhar matreiro como adorno,
eles, com sentimento de... corno!
Mas a alegria retornou,
o engano, a todos ensinou,
a guluseima não é só côr,
é preciso provar o interior.
E o ardina continuou,
de olhar matreiro, gozão,
nesta estória participou
como o artista espertalhão.
P'ró espectaculo terminar,
basta a sua janela fechar,
pôr bem os pés no chão,
e guardar o seu coração!
quarta-feira, outubro 25, 2006
O GRÃO DE AREIA

Este conto, ou talvez não, recdorda-me algo que... bem só pode mesmo acontecer naquelas praias...
O grão de areia olhava para o sol e dizia-lhe com carinho:
“Não te deixes intimidar, essa nuvens são marotas, querem tapar-te e molhar-me de seguida... “
O Sol retorquiu, com um riso amarelo....
“Grãozinho não te esqueças, o Verão terminou, e a chuva vem em seu tempo, não temos que temer é assim o destino”
Mas aquele grãozito estava desolado mesmo. Tinha-se afeiçoado àquele casalinho que todas as manhãs e tardes ali se sentavam, junto de si, namorando, rindo, namorando... Os vizinhos coqueiros, espreitavam do alto as malandrices, tentando vislumbrar os gestos de amor arrebatado, em promessas de vida, e até o “carangueijito” tinha perdoado o desassossego da sua casita, pelo enlevo daquele quadro de amor. As ondas no seu vai e vem, queriam a maré alta para chegarem mais perto, e as gaivotas no labor da sobrevivência, esvoaçavam inquietas, também elas mostrando infelicidade.
Todos sentiam, na realidade, a falta daquela manifestação de carinho e amor.
Mas factos são factos, o Verão terminara e um outro ciclo se iniciara, tudo iria ser diferente. Mas o grãozito de areia não se conformava, ele queria saber o resto da estória, se as juras se cumpririam. Ele declarara que a amaria por uma vida, que nada poderia impedi-lo de a fazer feliz, e ela de coração aberto, sorria e aceitava, a jura eterna como certa, e comungava com entusiasmo daquela partilha de união absoluta e indestrutível! Os beijos, umas vezes eram suaves como a brisa que soprava, outros eram arrebatados que faziam vibrar os corpos, numa luta naquela areia, daquela praia mágica, com os corpos fundidos num só, num sopro de vida, ofegante mas, comum. Como acabaria a estória? O Grão de areia não se conformava, mas começava a ficar vencido, os factos não lhe deixavam outra saida.
Como reagiriam às invejas, aos ciumes, aos mal entendidos, às mentiras, às traições, aos desejos, à luta pela sobrevivência? O Sol, qual Rei do Universo, servo maior do Deus da Criação, disse-lhe:
“ ... acorda Grãozito de areia, outro Verão virá e outro casalito ouvirás... e, tudo se repetirá de novo...”
Continua no próximo Verão, se a Vida não destruir o que o Amor contruiu...
Ricky
segunda-feira, outubro 02, 2006
Por ser verdade...
domingo, setembro 24, 2006
Partilha!
quinta-feira, agosto 24, 2006
Também neste dia...

a imagem veio de
Também a 24 de Agosto comemorava-se o aniversário do tio Zézé.
24 de Agosto. Um dia muito especial...

daqui
A um grande amigo
quarta-feira, agosto 23, 2006
Luiz Beja II
-Demoro 20 minutos...
-Luís, não vás pela António Enes que há lá um auto-stop.
-Ah! OK. Ainda bem que avisam...
Já à porta:
-Não vás pela António Enes...
-Porra, já ouvi à primeira...
O tempo passou. 30 m, 45 m, 1 hora e tal e o Luís sem chegar.
Adiantaram-se palpites vários enquanto o jantar arrefecia.
A observação do Zé foi apoiada por unanimidade:
-Não conheça eu a peça... Aposto que foi pela António Enes.
Todos ficámos, pois, sereníssimos e com um sarcástico sorriso quando o Luís, ao entrar, comentou zangado e com ar de novidade :
-Eh pá! Imaginem o que me aconteceu. Então não fui apanhado sem documentos no raio de um auto-stop na António Enes ?
terça-feira, agosto 22, 2006
Luiz Beja

Nos seus estúdios passei dias e dias divertidos enquanto o Dennis e o Zé Peres sonorizavam os seus filmes que vi vezes sem conta.
O Luiz era um artista da imagem e lamentável foi, não ter sido devidamente valorizado em Portugal.
O meu adeus, Luiz!
CB
segunda-feira, agosto 21, 2006
O Verão do baú

Como todos os anos, em Agosto, a mãe abre o baú e põe a arejar um monte de roupas de tempos idos. Desde os vestidos de criança aos de teen-ager desfilaram hoje, quase todos, perante os meus olhos. Este da foto também jazia entre o amontoado de trapos e deliciei-me ao tacteá-lo. A farda de marinheiro do pai, com que me mascarava no Carnaval, também ali morava denotando as marcas do tempo.
- Olha este, o vaporoso vestido vermelho dos folhos e lacinhos dos meus 6 anos...
Sorridente, ia-me passando um e mais um e mais outro. fazendo com que penetrasse numa viagem no tempo.
-Ó mã, mas para quê? Porque guardas estes trapos todos?
-Olha filha, se calhar para que, como agora, cada um deles te leve a desfiar lembranças e ouvir os comentários que vais tecendo.
- Mas já não servem para nada, mã, só ocupam espaço, duplicando o que já vive na nossa memória.
-Filha, este fui eu que bordei. Aquele, repara no tecido. Disto, já não se fabrica...
-Sim, mamã! Olhá-los aviva a memória, mas... vá lá que tens uma casa espaçosa...
Há 30 anos que este ritual acontece com as desusadas vestes que pagaram passagem num contentor para cruzar os dois oceanos que ligam Moçambique a Portugal.
Desejo veementemente que, por muitos mais anos, possa continuar a assistir a este Verão dos velhos trapos familiares.
quinta-feira, agosto 17, 2006
O Outro Pé da Sereia

origem da imagem
"-Quando se inventam assim maldades sobre um povo, é para abençoar as maldades que se vão praticar sobre ele."
" Eu acho, com todo o respeito que eles serão ainda piores.
-Como piores padre Antunes?
-Vai ver que eles são iguais aos brancos"
in Mia Couto, O Outro Pé da Sereia, pp 394 e 396
quinta-feira, agosto 10, 2006
Mais ouro

aqui a notícia do ouro
Achei mal!
Só após 45 minutos de notícias sobre a suspeita de atentados terroristas que teriam sido frustrados, é que a SIC nos mostrou a vitória de Obikwelu durante um espaço de tempo que não durou mais de um minuto.
Não seria de começar com este feito de um atleta português com ouro bimedalhado?
Parabéns Obikwelu!
Carochinha entra na estória...

a carochinha foi feita aqui
`
Ao som do "Torna a Surriento" na voz de Pavarotti, Cinderela varria a casa imaginando quantas almofadas já teria enchido com o pêlo de cão e gatos. Como os pensamentos são como as cerejas, lembrou-se da estória que contam sobre a sua amiga Carochinha. A verdade é que esta, como os pretendentes passavam ao largo, inventou que lhe tinha saído o prémio do euromilhões e estava rica. É claro que foi, de imediato, possuída por encantos súbitos que atraíram toda a bicharada do sítio e arredores. Alguém acredita que um boi, um burro ou mesmo um cão tivesse um casamento fisicamente harmonioso com a Carochinha? Interesseiros foi o que foram. Pô-los a andar a todos e fez muito bem. Caíu foi na ratoeira do João Ratão que, armado de falinhas mansas, a levou à certa. Foi uma tristeza, pois bem depressa ficou viúva a minha amiga Carochinha que ainda carpiu mágoas durante largos meses. No entanto, creio que o facto de lhe aparecerem tantos pretendentes elevou a sua auto-estima e, hoje, o que mais quer é não casar e desenvolve várias actividades menos a de varrer a cozinha. Contratou uma empregada, pois claro.
Ora, conta-se que o João era guloso e caíu na panela, mas a verdade é que o malandro estava cheio de dívidas e aproveitou-se da apregoada pseudo-fortuna da Carochinha que, pensou, lhe iria resolver os problemas e dar a possibilidade de criar outros... Quando se apercebeu que a Carochinha era um ser desprovido de dinheiro, o desânimo e o desespero apoderaram-se de si. Bem gritou e chamou nomes feios à minha pobre amiga que em desespero chorava perdidamente. Ela tinha acreditado piamente nas juras de amor do Ratão.
No dia em que lhe entraram os cobradores pela porta dentro, João refugiou-se na cozinha e dizem que em desespero saltou para a panela da sopa que estava ao lume. O João Ratão foi, assim, cozido e assado no caldeirão como reza o final da estória!
(continua)
Cinderela foi à net...
caminharam daqui os pés da Cinderela
Cinderela, entre pratos e panelas, ia pensando na madrasta da vida. Constava que os princípes estavam fora de moda e só artesanalmente eram fabricados, o que fazia deles uma raridade. Daí que afastou a questão da sua cabeça e passou a concentrar-se nas pitadas de óregãos, sal e piri-piri para condimentar o refogado.
Foi então que ouviu o plom-plom assinalando alguma presença no messenger. Baixou o lume, passou as mãos por água e limpou-as às calças pretas de lycra. Sentou-se à frente do écran e leu:
- sou um princípe, o teu princípe!
- meuuuu??? Como é que sabes?
- acabei de verificar numa foto o tamanho do teu pé.
- olha, sei muito bem que os princípes escasseiam... achas que ia acreditar que andava aí um só para mim? Não me dês tanga que tenho mais que fazer.
- Espera...
- Ora então boa-tarde! Fui!
(continua)
quarta-feira, agosto 09, 2006
Volta à estrada II

- Oh tontinha... então como é?
- ?????
- Esse blá-blá sobre o privado e escreves num blog que é público?
- Ah, isso... Mas não te apercebeste que ninguém cá vem, nem eu própria? A questão é que fica tudo mais organizadinho e não como a bagunçada que vai nas pastas de os meus documentos.
- Mas eu vim ler-te... Não podes dizer que ninguém cá vem.
- Ora essa! Sabes muito bem que és um mero grilo insignificante, com a mania que és a voz da minha consciência e acabamos quase sempre a discutir. Acho também que nem sempre és muito assisado. Olha, não passas mesmo é de um grande chato!
- Ai é? Pois fica a saber que tão cedo não ponho cá as patitas verdes. Escreve lá as patacoadas que te apetecer que não estou nem aí.
- Grilos há muitos, seu palerma...
segunda-feira, agosto 07, 2006
Volta à estrada real

daqui
Do passado pré-net a recordação de uma benquista solidão, de uma alienação do mundo da sociabilidade porque assim tinha de ser.
Franqueada a entrada do www, após viagens por um mundo de informação sem fim, a estupefacção perante a possibilidade de comunicação com todos os cantos do planeta.
Uma torrente de pessoas que lentamente foram aquirindo forma e rosto, interagiam, trocavam ideias, brincadeiras, num espaço de socialização que ingenuamente se acreditava desprovido das ruindades do mundo real. Atrás de cada écran encontrava-se um eu que não se esperava imbuído de mesquinhez, de egoísmo, de vaidades, de maldade.
Lentamente foi esmorecendo o à vontade e com isso a vontade, ao perceber que mil olhos vigiam e usam contra cada um de nós o que ousámos mostrar confiantemente. Decepção somada a decepção, múltiplas vezes, vai impedindo que os dedos voltem a percorrer o teclado de forma ligeira e prazeirosa. Pensa-se e pensa-se sobre o que se mostra de nós. Escreve-se, apaga-se, reescreve-se, apaga-se, num processo de retracção em que o desejo de privacidade se impõe. Acontece o fim. Desliga-se com uma sombra de tristeza porque o mundo virtual que sonhámos límpido foi revelando o que a natureza humana tem de pior.
Esta experiência, contudo, derivou na criação de cadeias quer de afectos e simpatias quer de rejeições. Relativamente a estas últimas o tratamento é simples. O problema é com a vertente dos afectos. Uns permanecem mas outros vão-se esboroando, lentamente, imprimindo mútuas mágoas. O afastamento acontece. Os caminhos divergem e cada um avança segundo o rumo escolhido.
Caminha-se assim para o antigo mundo mas transformado pela vivência da comunicação e integrando uma pequena teia de afectos que não queremos perder. O ....@.... é a via certa para que eles se mantenham no domínio do privado. Não preciso que muitos me leiam mas tão somente que tu me leias.
Escreveu uma aluna: O amor ou a amizade são como um terreno com plantas que regamos e acarinhamos para que cresçam belas e saudáveis. A dada altura vem a vaca e come tudo.
Bah!
sábado, maio 27, 2006
No país da treta

Retrato anacrónico de um proletariado oitocentista no século XXI:
Pais que por suma ignorância permitem ou incentivam o trabalho dos filhos perpetuando a ideia de criança-homúnculo.
Empresários "à portuguesa" perseguindo o lucro fácil para a ostentação pimba do seu Ferrari. Sem pingo de decência e de humanismo. Analfabetos!
Poderes e instituições que assobiam para o ar. Não vêem nada. Não sabem nada.
Só que a denúncia vem de fora, de Espanha. Ainda bem...
Vai observar-se o frenesim de fiscalizações sem que se encontre qualquer culpado. O normal.
Suprema vergonha de país!
sábado, abril 01, 2006
Ficção- ano 2016

Hoje está colocado para lá da margem do socialmente correcto.
Tudo começou quando a campanha antitabágica arvorou implacavelmente o estandarte de uma batalha que o deixaria à parte da sociedade. Marginal!
A sua carreira de criminoso havia apenas começado. Não tardaria seria marginalizado por pensar, por ter ideias próprias. A opinião pública standardizada e estupidificada, gerada e moldada pela campanha concertada dos senhores do mundo nomeadamente via audio-visuais, não se compadecia da sua intelectualidade. Marginal!
Ateu? Imperdoável. Marginal!
Profissionalmente não era pago para pensar ou criticar mas para obedecer. O despedimento estava aí, ameaçador... Marginal!
O Grande Simplex vigia-o. Toda a sua vida, todos os seus passos são conhecidos. Escondido em casa fuma, lê e pensa. Para quê?
Saudoso da Guerra Fria, do mundo bipolar, de dois paradigmas.
Zacarias