18 de Novembro de 1983. Uma terrível tempestade abateu-se sobre a noite de Lisboa e vizinhanças provocando memoráveis cheias. Mal a senti, tão alheada estava por uma outra tempestade, incomensuravelmente maior, que acabava de desabar sobre o meu eu estupidificado pela dor.
Tu não pudeste já compará-la com aquelas outras imponentes tempestades tropicais que não podias esquecer. Resolveste dizer-nos adeus quando o céu já se enlutava por ti, papá, e transformaste a nossa noite num pesadelo acordado.
Lembro que o rio Tejo amanheceu castanho do tanto que roubou às margens pelo caminho e caudaloso das águas que bebeu do céu, tão tumultuoso como o meu eu envolto num turbilhão de mágoas inconformadas.
Não consegui então chorar, talvez porque o céu o fez abundantemente por mim, ou porque até hoje nunca acreditei que te perdi, meu pai.
As últimas palavras que te ouvi ressoam ainda nos meus ouvidos: "Ardeu o abacateiro, filha...". Soube então que andavas pelo quintal da nossa casa cuidando-o como sempre fizeste e que te fundias numa das muitas árvores que a tua mão dedicada plantou e acarinhou.
2 comentários:
Mi "Eles" nunca morrem enquanto os que cá ficaram os recordem com carinho, só não nos podem responder quando queremos falar com eles...é por isso que eu abraço com carinho os que ainda estão perto de mim...a ti também neste momento, th
Um abraço, Mi-Th... C
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