sexta-feira, agosto 24, 2007

24 de Agosto...


Data em que houve catástrofes como a erupção do Vesúvio que assolou Pompeia e Herculano e o massacre de milhares de protestantes em França na noite de S. Bartolomeu em 1572.

A essa data, contudo, devo a minha vida, pois nasceu o meu pai, um marujo português, como mostra a foto dos seus dezoito anos.

Obrigada pelo que me deste, pai Ramiro.

Também para o tio Zezé Borges, a minha homenagem neste dia 24 de Agosto.

CB

terça-feira, agosto 14, 2007

Te cuida, pá...

Quero deixar aqui hoje, muito especialmente, um grande, mas mesmo muito grande abraço ao meu amigo Carlos Gil.

Cuida-te, hem?

Adeus, Salomé!

Foi há cerca de 14 anos. Ainda não estava refeita da dor pela perda da minha Bidú a quem uma seringa havia piedosamente abreviado o sofrimento. À porta do veterinário chorei convulsivamente a despedida. Prometi a mim própria que não deixaria que tal acontecesse de novo. Para além da gata Lili apanhada na rua e do Gastão, um soberbo angorá branco e surdo, não teria mais animais. Mal sabia eu que, logo a seguir, seria o mesmo o destino do meu Gastão, pelo qual o meu luto dificilmente se dissipou.
O Mário abriu a porta de trás do jeep e, de dentro de um caixote, emergiram três cabecitas caninas.
-Escolhe.- disse ele.
-Não sou capaz-retorqui colocando-me de costas para o carro-Tira tu uma à sorte.
-Tens de ser tu a fazê-lo.- insistiu.
Olhei, então, de relance, e aquela que primeiro me olhou, toda ladina, foi a que recolhi nos meus braços, pequena e fofinha. Deste modo, a Salomé entrou na família. Não sei que conversas caninas tiveram mas o Horácio, cão da minha mãe, e ela, trocaram-nos as voltas e trocaram de casa. A dedicação e o amor da Salomé à minha mãe, traduzidos naquele olhar doce e sempre fixo nela, eram uma evidência.
Hoje, será o dia em que terá de haver a necessária coragem para aliviar o sofrimento da nossa cadelinha. Logo à noite. Tudo volta a ser vivido e revivido. Choro de novo e, intensamente, mais uma dolorosa perda.

Adeus, minha Salomé!

Adenda-14.30 h: Acabou de morrer em casa nos braços da minha mãe.

sábado, agosto 04, 2007

Em memória do Tico

Do meu amigo Carlos Gil, este sentido post que me emocionou e doeu. Aqui


Matei o Tico. Há uma hora atrás.Ontem, quando cheguei, seriam umas onze da noite,
como tantas vezes ele veio receber-me, sequioso pelas palavras de carinho que não lhe negava, nunca. Permiti-lhe roçar-se na minha perna mas como sempre não muito pois, abandonado às doenças (e por elas), o pêlo ralo mostrava a pele em úlceras, quistos, um tumor do tamanho duma bola de ténis numa perna. Essa perna que, hoje, há uma hora e picos atrás, eu pisei com a roda do carro – a mesma que, ontem à noite, eu o vi a cheirar quando fechei a porta para as escadas do prédio? – e parti-lha. O uivo foi terrível, terrível. Foi um choque ouvi-lo, mesmo habituado que estava, estávamos, a ouvi-lo gemer toda a noite à porta da casa ‘da dona’, a que «gosta muito de animais» mas que mal a doença de pele lhe apareceu há uns dois ou três anos atrás pô-lo a viver na rua, provavelmente por cautelar receio dela se transmitir aos restantes animais que mantém, encarcerados, num anexo, onde uivam ao calor horas a fio. O olhar dele, a dor dele. O seu gemer, esse ganir de dor. No banco de trás do carro, olhei-o várias vezes enquanto seguíamos para o veterinário. O gemer lento, sofrido, olhava-me e nem sei se me ouvia, ouvia o meu chorar que não conseguia dissimular nas palavras que lhe dava. O olhar dele, as pupilas quase a desaparecerem e o branco assustador, o ganir lento assustador. Não gemia muito, havia silêncio na dor que se lhe via, havia… resignação, talvez. Chorava noites inteiras, lamentava-se à porta da ‘sua casa’ pelas dores e pelo abandono, acredito.O veterinário disse-me que além da fractura e de tudo o mais à vista haveria provavelmente lesões internas. Houve eutanásia mas não consegui assistir, fiz-lhe uma última festa, um último carinho sem medo de contágios ou do pestilento cheiro de abandonado, e vim cá para fora. Chorei. Sei que hei-de chorar mais quando, estacionando, lembrar-me que nunca mais o verei aproximando-se do carro abanando a cauda, os olhos em mim e o latido de carinho, sempre o roçar tímido e os olhos pedindo uma festa, carinho mútuo que não nos negávamos.
Sinto-me horrível. Não me consola o 'já não sofre mais', não há consolo quando se 'decide' a morte; gostávamos todos do Tico, abandonado por razões cutâneas mas fiel à casa que fora a sua e a cuja porta procurava o alimento que não encontrava nas ruas, carinho. Este sentimento de culpa ficar-me-á perpetuamente, o passeio vazio dele e do seu correr para mim, para 'a festinha', o silêncio que haverá nas noites sem o seu gemer, o seu lamento, irá doer. Lembrá-lo, lembrar-me que fui eu que o matei. Não sei se ele, onde quer que seja o 'céu' dos cães de olhos tristes - que haverá para acreditar-se em repouso aos sofredores -, me perdoará. Sofria muito, mas a morte dói. Muito.

Um abraço......pelo Tico, por ti e por mim que vos chorei. Sei, contudo, que o Tico, tão carente de afecto, teve os últimos momentos de amor dados por ti.

CB

sábado, julho 21, 2007

António Borges Coelho




António Borges Coelho

Ler aqui

"Saio de casa logo depois do primeiro café do dia (aquele que me sabe melhor e me deixa pronto para tudo), deixo o computador ligado e vou ler os jornais para uma cafetaria onde rezo sempre o texto em que estou a trabalhar, ou seja, as palavras têm de me soar bem ao ouvido. Escrever é no computador, mas rever é no papel. Só o papel me dá a dimensão exacta do que escrevo." (...)

"A História é a minha vida e a história dos homens e do seu tempo é a sua e também a nossa biografia. É apaixonante desvendar factos e figuras... Uma das que mais me marcou foi Espinosa, o filósofo holandês que melhor traduz a ideia do exílio português." (...)

“O trabalho intelectual, enquanto é possível, é a forma mais perfeita de estar ligado à vida” (...)


Porque para mim é uma referência, não só como personalidade de grande dimensão na cultura nacional mas, também, no domínio da socialização privada onde fui tendo o prazer e a honra de poder participar. Tanto mais sábio se revela, quando o seu humanismo e a simplicidade no ser e no dizer, indelevelmente, nos tocam.

CB

Nem quero acreditar que...

isto. no Portugal Diário, seja verdade.

(...)"As confederações do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), da Agricultura Portuguesa (CAP), da Indústria Portuguesa (CIP) e do Turismo Português reivindicam, esta sexta-feira, a alteração da Constituição da República de modo a que sejam permitidos despedimentos sem justa causa, nomeadamente, por razões políticas ou ideológicas*."(...)

*bold meu

O país rosa está a entrar, assustadoramente, em fase de alerta vermelho.

CB

País do esterco...

"(...)Por razões de pudicícia e para não expor ainda mais pessoa, não lhe chapo aqui com o nome, mas desenho-lhe a sombra com traço grossíssimo e levanto um rumor tal, em forma de trompa, para que de aqui se espalhe por toda a Blogosfera. *
É uma intelectual, respeito-lhe a postura, e temos em comum a paixão pessoana. Defende, como eu, que a Constituição Iluminista da Nação Portuguesa deve assegurar ao cidadão comum os instrumentos mínimos de instrução pública, que lhe permitam sobreviver na enorme deriva da Aldeia Global. Temos em incomum, e para grande dor minha, e dela, ter sofrido um tumor cerebral, o que poderia ter levado, nas derradeiras instâncias, à morte."(...)

*bold meu


CB

sexta-feira, julho 20, 2007

Chegaram!

foto daqui



Finalmente!


"Ai que prazer não cumprir um dever, ter um livro para ler e não o fazer"- Fernando Pessoa



Os relógios relegados para um plano de importância minimalista. Às três da matina ainda é dia e as dez da manhã assinalam a madrugada.

Borda fora alguns formalismos no vestuário. Os pés, no chão ou nos chinelos, libertados dos "calcantes" de bem parecer.



Sorver a luz e o calor do Sol para recarga de baterias.



Estou de Férias! Férias! Férias!



CB

terça-feira, julho 17, 2007

Mar de Sophia



Considero que o disco está fabuloso.

Maria Bethânia, no seu melhor, dizendo Sophia e não só.

(para ele veio uma nova aparelhagem que a pequena Sony cansou-se e, também ela, ajudou a espalhar tão bela poesia pela casa)

CB

segunda-feira, julho 16, 2007

Ilhas Afortunadas


foto minha


Conta a lenda que o Éden se situava no meio do vasto Atlântico nas míticas ilhas Afortunadas.


Na Mensagem de Fernando Pessoa:



Que voz vem no som das ondas
que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos falla,
mas que, se escutamos, cala,
por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
sem saber de ouvir ouvimos,
que ella nos diz a esperança
a que, como uma criança
dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
são terras sem ter logar,
onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
cala a voz, e há só o mar.
CB

Povo que lavas no rio...


E as excursões do povinho do país rosa que desceu à capital?
Grande folclore político do tempo da outra senhora. É tão bizarro que até dá vontade de rir.
Parabéns Roseta e Sá Fernandes!
CB

sábado, julho 14, 2007

Trabalhar até morrer

in Correio da Manhã-14 de Julho de 2007


"Uma professora do 1.º ciclo, em Ovar, vai ter de regressar ao trabalho apesar de lhe ter sido diagnosticado três cancros. A junta médica deu a docente como inapta para o trabalho, mas alguém na Caixa Geral de Aposentações (CGA) riscou o ‘sim’ conferido à incapacidade de exercer as funções e substituiu-o por um 'não', acrescentando que “altero a decisão da junta, claramente houve um engano no auto”. Este é o terceiro caso tornado público de professores gravemente doentes que tiveram de voltar a dar aulas."

Mais um caso. Não paramos de nos espantar e perturbar. Foi posta em funcionamento uma máquina diabólica.

CB

Dizia-me ele...

Dizia-me ele, há cerca de dois anos atrás, entre acesas discussões de cariz político:
- Ainda me darás razão, um dia.
Não adivinhei que, afinal, esse dia chegaria e, sobretudo, de forma tão rápida e evidente.
Se, na altura, já desacreditava àcerca da "corja" política, ainda havia algumas referências em termos de ideário e prática que me aproximavam do partido socialista, dentro do leque de opções de voto. Errei e penalizo-me por ter contribuído para esta maioria absoluta que despreza tão ostensivamente os governados.
Hoje, tal como uma substancial parte dos portugueses, vagueio num espaço desértico sem vislumbrar uma fonte onde possa sorver alguma esperança, saudosa do bipolarismo que equilibrou o mundo.
A globalização centrou o espaço de decisão mundial. As práticas obedecem a esse centro, orientadas pelo fim único e supremo de um economicismo frio, alheio aos princípios básicos do humanismo. Tendem a tornar-se práticas transnacionais, limitadas, apenas, quando os orgãos de soberania nacional são condicionados por uma opinião pública esclarecida e pouco manipulável. Uma vaga de práticas de subjugação vai criando um novo tipo de "escravatura" em que as massas são destituídas de liberdades, tornadas amorfas, passivas, como marionetas sem qualidade humana. É neste caminho que nos movemos no Portugal presente e é preciso reagir. As tendências autoritárias são cíclicas na História mas, aquela que hoje nos surpreende e apanha totalmente desprevenidos, é a que ousa camuflar-se sob a capa da democracia.
CB

quinta-feira, julho 12, 2007

Onde pára a cultura humanista do PS?


"(...) A ideia de grupo, o conceito de sociedade, o princípio de comunidade estão cada vez mais problemáticos. E quem nos dirige não dispõe de cultura humanista como componente indispensável à função política. Não têm espírito de missão, e as definições que defendem do corpo social correspondem a construções ideológicas facilmente identificáveis com o que mais extremado existe na Direita."

«Jornal de Negócios» de 6 de Julho de 2007

por Baptista-Bastos

ler todo o excelente artigo no blog sorumbático de onde copiei este excerto
CB

sexta-feira, julho 06, 2007

Amor é...

"...Com um olhar romântico, ela chegou à conclusão de que o amor devia, decerto, residir no hiato entre o desejo e a realização, na carência e não na satisfação. O amor era a dor, a expectativa, o afastamento, tudo o que o rodeava, menos a própria emoção."

in Kiran Desai, em A Herança do Vazio, Porto Editora, 2007, pág. 11 (vencedor do Man Booker Prize 2006)

Ainda estou no princípio e, por isso, não posso fazer uma apreciação pessoal, mas achei interessantes estas considerações em torno do tema amor. Penso que a emoção e a paixão estão nesse hiato, no quase, no limiar da realização, um quase que está condiciondo pelo talvez.

CB

quarta-feira, julho 04, 2007

Letra Para Um Hino



imagem copiada daqui.


Porque neste Portugal, pouco a pouco amordaçado, é preciso recordar que...

Letra Para Um Hino

É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor.
É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar.
Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre, O canto e as armas



poema retirado deste blog
CB

sábado, junho 30, 2007

Ao marinheiro

Para o marinheiro do Pacífico, com muito carinho

(lembrei-me desta canção que trauteei outrora)

Guerra no mar
.
Criola não tem sapato
Criola não tem sapato
Moça de pé no chão
Criola

Quem te ensinou a nadar
Quem te ensinou a nadar
Foi, foi marinheiro.
Foi os peixinhos do mar
Foi, foi marinheiro.
Foi os peixinhos do mar