Como todos os anos, em Agosto, a mãe abre o baú e põe a arejar um monte de roupas de tempos idos. Desde os vestidos de criança aos de teen-ager desfilaram hoje, quase todos, perante os meus olhos. Este da foto também jazia entre o amontoado de trapos e deliciei-me ao tacteá-lo. A farda de marinheiro do pai, com que me mascarava no Carnaval, também ali morava denotando as marcas do tempo.
- Olha este, o vaporoso vestido vermelho dos folhos e lacinhos dos meus 6 anos...
Sorridente, ia-me passando um e mais um e mais outro. fazendo com que penetrasse numa viagem no tempo.
-Ó mã, mas para quê? Porque guardas estes trapos todos?
-Olha filha, se calhar para que, como agora, cada um deles te leve a desfiar lembranças e ouvir os comentários que vais tecendo.
- Mas já não servem para nada, mã, só ocupam espaço, duplicando o que já vive na nossa memória.
-Filha, este fui eu que bordei. Aquele, repara no tecido. Disto, já não se fabrica...
-Sim, mamã! Olhá-los aviva a memória, mas... vá lá que tens uma casa espaçosa...
-Este chapéu era do teu avô. E esta bóina... (que coloquei na cabeça admirando o meu ar de pintora parisiense)
No final de Agosto, terá lugar a habitual cerimónia de arrumação no baú onde jazerão mais um ano.
Há 30 anos que este ritual acontece com as desusadas vestes que pagaram passagem num contentor para cruzar os dois oceanos que ligam Moçambique a Portugal.
Desejo veementemente que, por muitos mais anos, possa continuar a assistir a este Verão dos velhos trapos familiares.
Há 30 anos que este ritual acontece com as desusadas vestes que pagaram passagem num contentor para cruzar os dois oceanos que ligam Moçambique a Portugal.
Desejo veementemente que, por muitos mais anos, possa continuar a assistir a este Verão dos velhos trapos familiares.
2 comentários:
O tempo dos fatos
O tempo das roupagens
Dos chapéus
E dos sapatos
Dos baús...
As coisas d'outros tempos,
Os tempos d'outros sabores...
Eu, divagando, th
:-)
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