terça-feira, julho 17, 2007

Mar de Sophia



Considero que o disco está fabuloso.

Maria Bethânia, no seu melhor, dizendo Sophia e não só.

(para ele veio uma nova aparelhagem que a pequena Sony cansou-se e, também ela, ajudou a espalhar tão bela poesia pela casa)

CB

segunda-feira, julho 16, 2007

Ilhas Afortunadas


foto minha


Conta a lenda que o Éden se situava no meio do vasto Atlântico nas míticas ilhas Afortunadas.


Na Mensagem de Fernando Pessoa:



Que voz vem no som das ondas
que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos falla,
mas que, se escutamos, cala,
por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
sem saber de ouvir ouvimos,
que ella nos diz a esperança
a que, como uma criança
dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
são terras sem ter logar,
onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
cala a voz, e há só o mar.
CB

Povo que lavas no rio...


E as excursões do povinho do país rosa que desceu à capital?
Grande folclore político do tempo da outra senhora. É tão bizarro que até dá vontade de rir.
Parabéns Roseta e Sá Fernandes!
CB

sábado, julho 14, 2007

Trabalhar até morrer

in Correio da Manhã-14 de Julho de 2007


"Uma professora do 1.º ciclo, em Ovar, vai ter de regressar ao trabalho apesar de lhe ter sido diagnosticado três cancros. A junta médica deu a docente como inapta para o trabalho, mas alguém na Caixa Geral de Aposentações (CGA) riscou o ‘sim’ conferido à incapacidade de exercer as funções e substituiu-o por um 'não', acrescentando que “altero a decisão da junta, claramente houve um engano no auto”. Este é o terceiro caso tornado público de professores gravemente doentes que tiveram de voltar a dar aulas."

Mais um caso. Não paramos de nos espantar e perturbar. Foi posta em funcionamento uma máquina diabólica.

CB

Dizia-me ele...

Dizia-me ele, há cerca de dois anos atrás, entre acesas discussões de cariz político:
- Ainda me darás razão, um dia.
Não adivinhei que, afinal, esse dia chegaria e, sobretudo, de forma tão rápida e evidente.
Se, na altura, já desacreditava àcerca da "corja" política, ainda havia algumas referências em termos de ideário e prática que me aproximavam do partido socialista, dentro do leque de opções de voto. Errei e penalizo-me por ter contribuído para esta maioria absoluta que despreza tão ostensivamente os governados.
Hoje, tal como uma substancial parte dos portugueses, vagueio num espaço desértico sem vislumbrar uma fonte onde possa sorver alguma esperança, saudosa do bipolarismo que equilibrou o mundo.
A globalização centrou o espaço de decisão mundial. As práticas obedecem a esse centro, orientadas pelo fim único e supremo de um economicismo frio, alheio aos princípios básicos do humanismo. Tendem a tornar-se práticas transnacionais, limitadas, apenas, quando os orgãos de soberania nacional são condicionados por uma opinião pública esclarecida e pouco manipulável. Uma vaga de práticas de subjugação vai criando um novo tipo de "escravatura" em que as massas são destituídas de liberdades, tornadas amorfas, passivas, como marionetas sem qualidade humana. É neste caminho que nos movemos no Portugal presente e é preciso reagir. As tendências autoritárias são cíclicas na História mas, aquela que hoje nos surpreende e apanha totalmente desprevenidos, é a que ousa camuflar-se sob a capa da democracia.
CB

quinta-feira, julho 12, 2007

Onde pára a cultura humanista do PS?


"(...) A ideia de grupo, o conceito de sociedade, o princípio de comunidade estão cada vez mais problemáticos. E quem nos dirige não dispõe de cultura humanista como componente indispensável à função política. Não têm espírito de missão, e as definições que defendem do corpo social correspondem a construções ideológicas facilmente identificáveis com o que mais extremado existe na Direita."

«Jornal de Negócios» de 6 de Julho de 2007

por Baptista-Bastos

ler todo o excelente artigo no blog sorumbático de onde copiei este excerto
CB

sexta-feira, julho 06, 2007

Amor é...

"...Com um olhar romântico, ela chegou à conclusão de que o amor devia, decerto, residir no hiato entre o desejo e a realização, na carência e não na satisfação. O amor era a dor, a expectativa, o afastamento, tudo o que o rodeava, menos a própria emoção."

in Kiran Desai, em A Herança do Vazio, Porto Editora, 2007, pág. 11 (vencedor do Man Booker Prize 2006)

Ainda estou no princípio e, por isso, não posso fazer uma apreciação pessoal, mas achei interessantes estas considerações em torno do tema amor. Penso que a emoção e a paixão estão nesse hiato, no quase, no limiar da realização, um quase que está condiciondo pelo talvez.

CB

quarta-feira, julho 04, 2007

Letra Para Um Hino



imagem copiada daqui.


Porque neste Portugal, pouco a pouco amordaçado, é preciso recordar que...

Letra Para Um Hino

É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor.
É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar.
Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre, O canto e as armas



poema retirado deste blog
CB

sábado, junho 30, 2007

Ao marinheiro

Para o marinheiro do Pacífico, com muito carinho

(lembrei-me desta canção que trauteei outrora)

Guerra no mar
.
Criola não tem sapato
Criola não tem sapato
Moça de pé no chão
Criola

Quem te ensinou a nadar
Quem te ensinou a nadar
Foi, foi marinheiro.
Foi os peixinhos do mar
Foi, foi marinheiro.
Foi os peixinhos do mar


sexta-feira, novembro 10, 2006

Mulher portuguesa/Caterina de Agostinho


"Não sei já, Caterina, se és chinesa
ou se Índia te tomou e és indiana
ou de ébano te vejo se africana
ou se és eternamente portuguesa
e sendo portuguesa a todas tens
porque em ti, Caterina, eu amo o mundo
e para assim te amar nele me fundo,
sabendo que o meu bem é não ter bens,
que a minha maior posse é não ter nada
e com tudo eu estar já sem saber
se morto vivo ou vivo de morrer"
[Agostinho da Silva, De Camões a Natércia, in jornal Quinto Império, nº6, 1991]



Naquele lugar...


Naquele lugar
Olhei,
e logo senti o acolhimento,
daquelas árvores,
daqueles arbustos,
daquela relva,
daquele lugar!
Por ali andei,
por ali namorei,
por ali sonhei, acordado,
como agora, neste momento,
quando sinto o teu cheiro,
no cheiro daquele lugar!
Ali declamei,
ali fiz promessas,
num futuro só de luz,
cheio de amor,
vida, partilha.
Na recordação deste lugar,
encontrei de forma inesperada,
o sabor da tua presença,
por momentos, real,
por momentos, tão doce...
Oh saudade linda,
porque te escapas,
fica, fica comigo,
transforma este doce calor,
no calor do peito dela,
transforma esta imagem,
naquele corpo macio,
como manto de veludo...
Oh saudade, saudade,
porque estás tão amarga,
porque te escapaste?

Ricky, 21 de Jan. 2005


sexta-feira, outubro 27, 2006

Daquela Janela....

Naquela janela
Nesta rua tão simpática,
há uma imagem que fica,
naquela bonita janela
aquela figura tão bela.
Ninguém ficava indiferente,
elas, com ciume evidente,
eles, com olhos bem "feitos",
de propósitos "insuspeitos".
Só o ardina na barraca,
ficava mudo como uma estaca,
olhava de soslaio,
p'lo cantinho do olho,
como um catraio,
c'um rebuçado p'ro molho.
Os dias passavam felizes,
suaves como voos de perdizes,
sem vislumbre de caçador,
nem notícias de valor!
Os machos, m'ai'los machões,
faziam apostas aos montões,
era "amor", "amor" aos repelões,
até fazia doer os corações...
E, rua abaixo, rua acima,
as surtidas continuavam,
e ainda por cima,
todos se entusiasmavam.
............................................
Ah! a janela se fechou,
mas que foi que se passou?
Que tarde triste aquela,
sem a figurinha da janela!
Aquela "figura" adoeceu,
e, então tudo se esclareceu,
era um "travesti" cuidadoso,
muito bonito, muito meloso!
Ele se transformava,
dos cabelos à cintura,
naquela janela espreitava,
e assim montava a estrutura.
Foi um "bruá" danado,
elas de sorriso rasgado,
de olhar matreiro como adorno,
eles, com sentimento de... corno!
Mas a alegria retornou,
o engano, a todos ensinou,
a guluseima não é só côr,
é preciso provar o interior.
E o ardina continuou,
de olhar matreiro, gozão,
nesta estória participou
como o artista espertalhão.
P'ró espectaculo terminar,
basta a sua janela fechar,
pôr bem os pés no chão,
e guardar o seu coração!

quarta-feira, outubro 25, 2006

O GRÃO DE AREIA


















Este conto, ou talvez não, recdorda-me algo que... bem só pode mesmo acontecer naquelas praias...

O Grão de areia

O grão de areia olhava para o sol e dizia-lhe com carinho:
“Não te deixes intimidar, essa nuvens são marotas, querem tapar-te e molhar-me de seguida... “
O Sol retorquiu, com um riso amarelo....
“Grãozinho não te esqueças, o Verão terminou, e a chuva vem em seu tempo, não temos que temer é assim o destino”
Mas aquele grãozito estava desolado mesmo. Tinha-se afeiçoado àquele casalinho que todas as manhãs e tardes ali se sentavam, junto de si, namorando, rindo, namorando... Os vizinhos coqueiros, espreitavam do alto as malandrices, tentando vislumbrar os gestos de amor arrebatado, em promessas de vida, e até o “carangueijito” tinha perdoado o desassossego da sua casita, pelo enlevo daquele quadro de amor. As ondas no seu vai e vem, queriam a maré alta para chegarem mais perto, e as gaivotas no labor da sobrevivência, esvoaçavam inquietas, também elas mostrando infelicidade.
Todos sentiam, na realidade, a falta daquela manifestação de carinho e amor.
Mas factos são factos, o Verão terminara e um outro ciclo se iniciara, tudo iria ser diferente. Mas o grãozito de areia não se conformava, ele queria saber o resto da estória, se as juras se cumpririam. Ele declarara que a amaria por uma vida, que nada poderia impedi-lo de a fazer feliz, e ela de coração aberto, sorria e aceitava, a jura eterna como certa, e comungava com entusiasmo daquela partilha de união absoluta e indestrutível! Os beijos, umas vezes eram suaves como a brisa que soprava, outros eram arrebatados que faziam vibrar os corpos, numa luta naquela areia, daquela praia mágica, com os corpos fundidos num só, num sopro de vida, ofegante mas, comum. Como acabaria a estória? O Grão de areia não se conformava, mas começava a ficar vencido, os factos não lhe deixavam outra saida.
Como reagiriam às invejas, aos ciumes, aos mal entendidos, às mentiras, às traições, aos desejos, à luta pela sobrevivência? O Sol, qual Rei do Universo, servo maior do Deus da Criação, disse-lhe:
“ ... acorda Grãozito de areia, outro Verão virá e outro casalito ouvirás... e, tudo se repetirá de novo...”
Continua no próximo Verão, se a Vida não destruir o que o Amor contruiu...
Ricky

segunda-feira, outubro 02, 2006

Por ser verdade...


Por ser verdade...
Tínhamos chegado àquela terra havia dois dias. Não conhecia ninguém da minha idade, sete anos, que eu dizia com autoridade, ensaiando uma maturidade que ansiava por ter... África linda, com os seus silêncios bem barulhentos, com aquelas mangas saborosas, arrancadas da árvores e descascadas com os dentes, e chupadas até parecerem um tear de linhas expostas... Era o que me valia, as aulas só começavam na semana seguinte, mas a época das mangas estava aí a marcar as nódoas nas camisas, o que sinceramente, irritava a minha mãe. Até que apareceu outro solitário, o Jorgito, soube depois, filho do senhor Tembe, um negrão alto e espadaúdo... O filho dava mostras de ir por aquele caminho. Olhámo-nos, cumprimentámo-nos e começámos com as fisgas, que ele tinha uma melhor técnica para as fazer, desde o pau cruzado à forma como segurava os elásticos, com elásticos mais finos, cortados, criteriosamente, duma câmara velha que havia por ali...
Aquela amizade ficou desde logo selada. Já era o meu maior amigo! Minha mãe espreitou-nos e ficou mais descansada porque nos defenderíamos um ao outro, daquelas cobras traiçoeiras que por ali circundavam, nas mangueiras e no capim alto à volta do quintal. Chegou a hora do lanche, e lá apareceu a minha mãe a gritar: "Meninos para o lanche..." O Jorgito exitou, e eu? Sosseguei-o vem nada receies. E ali estava os copos de leite com ovomaltine e os pães com manteiga. Se a amizade estava selada já, ali ficou soldada...
Os dias se passaram, e as cenas do lanche repetiam-se, tornaram-se normais. Pai Tembe veio agradecer a gentileza, e tudo ficou "devidamente" consolidado.
Em áfrica, penso que não só em Moçambique, era costume as senhoras "brancas" visitarem as que chegavam de novo ao local, para lhes oferecerem os seus préstimos e solidariedade pelo "isolamento civilizacional".
Naquela tarde minha mãe tinha uma visita dessas, mesmo na altura do lanche. Ainda ouvi o diálogo: "D. Maria a senhora permite que o "pretito" lanche com o seu filho?" A minha mãe, serenamente, com aquele olhar que eu tanto admirava, e ás vezes temia, retorquiu: "Não vejo isso, vejo o Jorgito e o meu filho, que vão frequentar a mesma escola e a mesma classe, vizinhos, e que brincando juntos, lancham juntos..." Já não me recordo como é que a tal dita senhora se desenvencilhou da resposta, mas lá que foi duro, foi...
A minha vida foi assim pautada pelos ensinamentos dos meus pais, e hoje quando vejo alguns barulhentos defenderem o não ao racismo, penso para comigo, que melhor do que gritar é praticar. Amigos pratiquem, pratiquem...
Hoje, quando tenho de responder à minha neta escuteira e catequista, às vezes recorro a estas histórias da minha vida, para ilustrar o que pretendo dizer. Perguntava-me ela "... Jesus disse para amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou, como é que eu faço avô? Contei-lhe esta história porque o que se passou entre mim e o Jorgito, não foi senão amor ao próximo, sem barreiras de qualquer espécie...
O Jorgito foi muito anos mais tarde ministro de Moçambique, e para além disso era um pintor que eu muito admirava... Espero que a tal senhora o tenha reconhecido mais tarde... era bem feito!
O quadro que reproduzi não é do Jorgito, mas é da terra...
Ricky

domingo, setembro 24, 2006

Partilha!


A partir deste dia 24 de Setembro de 2006, este blog passará a ser en(ricky)uecido por um querido amigo com quem tenho o maior prazer em dialogar e mundivaguear, pois saio sempre aprendendo.

Força na caneta, digo, no teclado.

CB

quinta-feira, agosto 24, 2006

Também neste dia...


a imagem veio de

Também a 24 de Agosto comemorava-se o aniversário do tio Zézé.

Zé Borges, na sua juventude, foi perseguido e preso pela PIDE, de má memória, acusado de acções subversivas e de ligação ao comunismo. Marcou, então, encontro com Moçambique que inevitavelmente o fascinou. Não tanto as cidades mas a estimulante aventura dos matos.

Fixou-se, mais tarde, em Mutarara e ali casou. Foi pelo seu casamento que atravessei nos meus 6 anos a longa ponte Dona Ana sobre o majestoso rio Zambeze. Embarcados em Inhaminga no imponente comboio de passageiros da TZR, cruzámos a imensidão africana. Dos meus olhos de menina de pouca idade retenho essa fantástica memória da longa viagem de ida e volta, onde à janela me enegrecia de fuligem.
O seu desejo era acabar os seus dias em Mutarara, fundindo-se com a terra que amou mas, infelizmente, a vida não lhe deu tempo.

24 de Agosto. Um dia muito especial...


daqui

Setúbal, 24 de Agosto de 1916. Nascia o segundo dos 0ito filhos que iriam constituir a prole de Olímpio e de Maria da Conceição. Deram-lhe um não muito comum nome: Ramiro.
Na Marinha calcorreou algum mundo e em 1952 abalou rumo a terras africanas. Moçambique! Homem trabalhador, bom profissional e rijo que não lembro ter algum dia faltado ao trabalho. Excepto, é claro, aqueles três meses de coma após violento acidente.
Carinhoso... muito! Flexível face às traquinices das filhas a quem mimava sempre. Um dos raros ódios que lhe conheci era Salazar. Precisamente. Vá-se lá saber porquê...
Artista. Das suas mãos saíram peças em osso de extrema perfeição. No meu escritório, sempre presente, o porta canetas com tinteiros e calendário feito por ele.
Outra das paixões era a natureza. As árvores que plantou, que tão frondosas se fizeram, como as acácias amarelas e, abundantemente, as de fruto. Poucos frutos havia que não pudesse colher no nosso quintal. Também a machamba que com afinco tratava quando voltava do trabalho. "Ó filha, apanhei esta bela cenoura para ti."
Distraído. Não sei por que mundos caminhava quando frequentemente se desligava do real, parecendo cair desprevenidamente em terra alheia, quando descia desse planeta só dele. Havia sempre motivo para risadas face à sua atrapalhação.
Em 1976 aterrou em Lisboa após ter-se reformado em Moçambique. A cor do dinheiro, após 40 anos de trabalho, nunca a viu. Foi perdendo o viço. As árvores que plantara, a machamba que cuidara, a rotina quotidiana do clube, haviam ficado para trás.
Em 1983, as últimas palavras que me dirigiu foram "-Adeus filha! O abacateiro ardeu!". "-O quê papá?" "-Foi o abacateiro filha. Ardeu." No dia seguinte fiquei certa do significado da mensagem. Não chorei, então, talvez porque o céu, copiosamente, fê-lo por mim no dia 18 de Novembro, quando poderosas tempestades e cheias abalaram a cidade de Lisboa.

Faria 90 anos hoje, o meu pai.

A um grande amigo

Sim, és tu...

se passares por aqui,
se me leres,
sente o sabor da palavra
AMIZADE.

Que rima com saudade
e com aquilo que em ti tanto admiro,
a dignidade.

E que pena, que chatice,
não rimar com casmurrice!

CB

quarta-feira, agosto 23, 2006

Luiz Beja II

Preparávamo-nos para sentar à mesa para jantar, quando o Luís se lembrou que deixara não sei o quê importante no estúdio.
-Demoro 20 minutos...
-Luís, não vás pela António Enes que há lá um auto-stop.
-Ah! OK. Ainda bem que avisam...
Já à porta:
-Não vás pela António Enes...
-Porra, já ouvi à primeira...
O tempo passou. 30 m, 45 m, 1 hora e tal e o Luís sem chegar.
Adiantaram-se palpites vários enquanto o jantar arrefecia.
A observação do Zé foi apoiada por unanimidade:
-Não conheça eu a peça... Aposto que foi pela António Enes.
Todos ficámos, pois, sereníssimos e com um sarcástico sorriso quando o Luís, ao entrar, comentou zangado e com ar de novidade :
-Eh pá! Imaginem o que me aconteceu. Então não fui apanhado sem documentos no raio de um auto-stop na António Enes ?

terça-feira, agosto 22, 2006

Luiz Beja


Um traiçoeiro ataque cardíaco levou o Luiz há cerca de um mês. Soube-o só hoje através de um site moçambicano.
Quantas e quantas historietas hilariantes poderia eu contar sobre este amigo que poderia constar como um dos homens mais distraídos e desastrados do planeta. A título de exemplo, lembro quando foi levar a Laide a casa dos pais, após cinco anos de casados. Tinha esquecido! Pôs também a polícia a investigar o roubo do seu Lancia que tinha, afinal, deixado a fazer a revisão.
A sua carrinha Fiat e o Land-Rover, esses sim, eram vítimas de furto constante pelos delinquentes amigos, ou seja, nós. Era neles que viajávamos para a Macaneta ou Ponta do Ouro ou serviam para as nossas perambulações nocturnas pela cidade e arredores. Nem dava conta e quando dava, chamava-nos apenas "seus bandidos" com a sua voz ciciante.

Nos seus estúdios passei dias e dias divertidos enquanto o Dennis e o Zé Peres sonorizavam os seus filmes que vi vezes sem conta.

O Luiz era um artista da imagem e lamentável foi, não ter sido devidamente valorizado em Portugal.

O meu adeus, Luiz!

CB